Filo 2024
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Em cena, a questão da negritude e o preconceito

“Isto é Um Negro?”, em única apresentação nesta quinta-feira (31), na Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura UEL, evidencia o racismo como prática estrutural no Brasil

Discutir o racismo, a negritude e a necessidade de mudar o entendimento que os brancos têm sobre essas questões estão entre as discussões propostas pelo espetáculo “Isto é um Negro?”, que o grupo EQueméGosta?, de São Paulo, apresenta na Mostra Nacional de Artes Cênicas do FILO 50+1. A montagem poderá ser vista nesta quinta-feira (31), às 20h30, na Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL.

O espetáculo “Isto é Um Negro?” é um estudo sobre o que é ser negro  e negra no Brasil e, especificamente, sobre o que é ser um artista negro(a) no país hoje.  Uma tentativa de construir estratégias de diálogo sobre o racismo estrutural como prática que se perpetua. A partir de leituras das obras de Fred Moten, Achille Mbembe, Bell Hooks, Grada Kilomba, Frantz Fanon (1925-1961), Sueli Cordeiro e Aimé Cesaire (1913-2008), o grupo elaborou as questões que tenta materializar em cena.

O espetáculo estreou no início de 2018 e, de lá para cá, já foi visto em diversas cidades do Brasil. Recentemente, foi apresentado em Portugal e agora se prepara para uma turnê pela Europa. A atriz e dramaturga Mirella Façanha conta que o espetáculo nasceu a partir de um grupo de estudos que se formou dentro da Escola de Arte Dramática da USP.  “Fizemos um levantamento de autores e autoras negras do Brasil, França e Estados Unidos. A ideia era estudar o que não se estuda. Mas, inicialmente, não havia pretensão de se montar um espetáculo”, afirma. As leituras dos textos alimentaram o trabalho do grupo e deram, segundo Mirella, suporte para falar de perspectivas da negritude na atualidade.

“Quem sou eu? Quais as problemáticas desse meu corpo? Como ele se constitui com as referências que tem?” foram questões que o grupo buscou responder com esses estudos. “Durante o processo de criação resolvemos não fazer concessões. Chegamos a lugares em que precisamos bancar a relação entre os integrantes, pois somos muito diferentes. O fato de a branquitude entender a negritude de um jeito só, tentar formatar a gente como uma coisa só, talvez seja um dos efeitos mais racistas de construção de identidade da população negra, pois somos muito diferentes”,  comenta.

Mirella Façanha afirma que o racismo é fundador estruturante da sociedade e molda todas as relações no mundo. Para ela, o problema afeta a todos, inclusive os brancos. “O capitalismo avança de tal maneira que temos pessoas não negras ocupando papéis que foram criados para pessoas negras. Vivemos uma política de morte do sujeito. Pessoas que não têm acesso ao trabalho, à educação, saúde, que não tem direito de sonhar”, pontua.

De forma contundente, o espetáculo busca, segundo a atriz, propor à plateia uma forma de imaginar outra possibilidade. “Imagino que esse seja o jeito de termos mudanças efetivas, para além da população negra. Precisamos ter pessoas não negras nessa luta também. Pois a manutenção do racismo só existe porque existem brancos nessa manutenção. A branquitude precisa começar a discutir e agir de forma prática contra o racismo”, diz.

O grupo

Este é o primeiro espetáculo do grupo, surgido a partir de um processo de criação dentro da Escola de Arte Dramática (EAD/ECA) da Universidade de São Paulo (USP), no ano de 2016. O trabalho estreou profissionalmente em março de 2018 no Sesc Belenzinho, em São Paulo.

Desde então, fez outras temporadas e foi apresentado em festivais como  o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (FIT Rio Preto), o Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), o Festival Melanina Acentuada (Bahia), MIT,-SP, CCBB(RJ) Mostra Brasil Internacional de Teatro, entre outros. O grupo, formado por profissionais da dança, do teatro e das artes visuais, fez sua estreia na Europa no Festival MEXE (Portugal) e segue em turnê em 2020 pela Europa e Estados Unidos.

Ficha Técnica:

Atores: Ivy Souza,Lucas Wickhaus,Mirella Façanha e Raoni Garcia. Direção: Tarina Quelho. Co-direção: Lucas Brandão. Dramaturgia: Mirella Façanha e Tarina Quelho. Som : Tom Monteiro. DJ/Som : Fernanda Feliz. Luz: Lucas Brandão. Fotos: Rodrigo Oliveira. Cenotécnico : Lam Matos. Produção: Dani Façanha

ISTO UM NEGRO?
EQueÉGosta? (São Paulo – SP)
Dia 31 de outubro
Horário: 20h30
Local: Divisão de Artes Cênicas/Casa de Cultura da UEL (Avenida Celso Garcia Cid, 205)

Classificação indicativa: 18  anos

Duração: 100  min

 


MOSTRA NACIONAL DE ARTES CÊNICAS – FILO 50 + 1
De 24 de outubro a 5 de novembro
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)
Pela internet: https://www.sympla.com.br/FiloMostraNacionalDeArtesCenicas.
Ponto de vendas: Loja Ciranda (Rua Prefeito Hugo Cabral, 656) – Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 9 às 18 horas, e sábados, das 9 às 13 horas.
Patrocínio: Prefeitura Municipal de Londrina – Secretaria Municipal de Cultura – Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC)
Apoio: Ciranda, Crillon Palace Hotel, Midiograf , Rádio UEL FM, Sanepar, SESI Cultura, Teatro Mãe de Deus e Vila Cultural Cemitério de Automóveis
Realização: Atrito Arte Artistas e Produtores Associados, Palipalan Arte e Cultura e Universidade Estadual de Londrina (UEL).

 

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