Confira entrevista com a atriz Kamylla Paola dos Santos, do espetáculo “Itan e Tal”, do Grupo Baquetá (Curitiba-PR), que será apresentado neste domingo, no Espaço Villa Rica, às 16 horas e 19 horas

Pela primeira vez participando do Festival Internacional de Londrina, o Grupo Baquetá, de Curitiba (PR), leva ao palco do Espaço Villa Rica neste domingo, em duas sessões (16 e 19 horas), o espetáculo “Itan e Tal”. A atração promete agradar toda a família com uma apresentação que mistura música e dança para falar das culturas afro e indígena brasileiras.

Com uma trajetória de 14 anos na cena teatral curitibana, o coletivo é pioneiro nesta temática dirigida às infâncias. Confira abaixo entrevista com a atriz Kamylla Paola dos Santos, que interpreta a personagem Nati, menina que inventa o jogo divertido MIP – Mundo Invertido das Palavras – e descobre suas origens. “Itan e Tal” também tem no elenco os atores-cantores André Daniel e Maycon Souza. 

Vale a dica de que o grupo é bastante atuante nas redes sociais e disponibiliza atividades didáticas em seu site e trilhas autorais em plataformas de streaming.

Qual a proposta do grupo?
Trabalhamos com o propósito de afirmar e reafirmar os saberes afro-brasileiros, africanos, indígenas. Evitamos usar o termo “resgate” desses saberes porque, na verdade, eles não forma perdidos, foram silenciados. Este é o nosso sétimo espetáculo e surgiu para responder alguns questionamentos do que faltou nas nossas infâncias enquanto pessoas afro-paranaenses. Crescemos com uma educação que nos afasta dessas histórias, que são nossas histórias. Nossa equipe é majoritariamente negra e cresceu com esse apagamento.

Qual o enredo de “Itan e Tal” ?
A montagem traz informações relevantes sobre o histórico negro e indígena aqui do Paraná; fala de personagens como os irmãos Rebouças, que dão nome de cidade, de bairro, em Curitiba; de personagens do litoral do Paraná, como a Mãe Catira, e personagens indígenas, como a Jaguaretê, que é a onça-pintada, guardiã da Mata Atlântica, que na montagem une a Nati com a sua avó.

É uma compilação de histórias?
É diferente, não é compilação. A dramaturgia é nossa e desenvolvemos um enredo que fala da Nati que, ao criar um jogo, o MIP – Mundo Invertido das Palavras, descobre que o seu nome ao nome contrário é Itan. Curiosa, acaba descobrindo que Itan é um conjunto de narrativas, histórias da mitologia iorubá, histórias dos orixás… A partir disso é como se abrisse um portal na vida da Nati. E através de sonhos, conversas com o pai, ela vai recebendo essas informações, passadas ao público por meio da música, da dança, da encenação.

E como é fazer esse trabalho em Curitiba?
Às vezes pode parecer o contrário, mas Curitiba, percentualmente, é a capital mais negra do sul do Brasil. Então existe um silenciamento, apagamento dessas narrativas. O nosso grupo é formado por pessoas da cidade e nasceu com objetivo de dar luz a essas histórias que estão apagadas. Não vemos essas narrativas contadas, principalmente no teatro.

Isso é um desafio?
Esse espetáculo estreou no Guairinha. Foi um grande desafio para nós estarmos ali. Pela primeira vez que pisamos neste palco, depois de 14 anos do grupo. A gente vem sofrendo uma série de situações, que são recorrentes em Curitiba, de racismo.

Chega a ter algum tipo de boicote?
Sim, e eles são mais da parte das instituições. O racismo é estrutural e estruturante. As pessoas que ficam sabendo da divulgação vão, mas para a gente conseguir estar nas pautas, ter divulgação, é um desafio. Até mesmo dentro do teatro.

O foco de público é diverso?
É um espetáculo que toca as pessoas negras, indígenas, mas foi criado para todos. Quando estamos falando de antirracismo são práticas que interessam a todos. É a oportunidade de todos terem acesso a essas informações e romperem com esse padrão racista que parte muitas vezes de ignorância, de falta de conhecimento, de saber da potência das histórias, das culturas negra e indígena, de reconhecer que essas populações foram as que construíram e fortaleceram esse país, esse estado.

Entrevista a Ana Paula Nascimento / Assessoria de Imprensa FILO

 

“Itan e Tal” – Grupo Baquetá (Curitiba/PR)
Data: 18 de junho
Horário: 16h e 19h (duas sessões)
Local: Espaço Villa Rica (Rua Piauí, 211), em Londrina
Ingressos: https://www.sympla.com.br/produtor/filo