Filo 2024
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Estereótipos se chocam em Black Off

Coprodução da África do Sul e Suíça expõe discursos racistas na primeira atração internacional do FILO 2017

 

Raphael Urweider, Ntando Cele e Simon Ho (foto: Fábio Alcover)

“A maioria das pessoas pensa que não é racista. Mas a verdade é que todo mundo tem preconceito em relação a alguém, com clichês e estereótipos”. Foi dessa forma que Raphael Urweider, que assina o texto de “Black Off” juntamente com a performer e atriz sul-africana Ntando Cele, começou a conversa com a imprensa, em entrevista na tarde desta quarta-feira. A montagem é a primeira atração internacional do FILO 2017, quinta (18) e sexta-feira (19), às 19 horas, no Teatro Mãe de Deus.

O espetáculo propõe um raro momento de reflexão sobre preconceito racial, usando o humor característico da comédia stand-up para expor uma ferida aberta, levando o público a se reconhecer dentro de um discurso racista disfarçado e facilmente replicado na sociedade.

O alter-ego de Ntando Cele na montagem, Bianca White, é uma alma caridosa, com a missão de ajudar os brancos a “não temerem” os negros. Outro desafio da personagem é ajudar “todos os negros do mundo a superarem a sua ‘escuridão interior’, defendendo a ideia de que todo mundo pode sentir-se branco”.

Ntando Cele diz que “os estereótipos sobre brancos e pretos existem em qualquer parte do mundo e a companhia toma o cuidado de adaptar o texto para a realidade de cada lugar em que se apresenta”. Para a apresentação no FILO, o grupo vai  abordar a miscigenação que caracteriza o Brasil.

Se nos primeiros 45 minutos de espetáculo Bianca White é apresentada como uma grande benfeitora, quase aristocrática, na segunda parte o público enfrenta a fúria de Vera Black, outra personagem de Ntando Cele, agora para apresentar o clichê da mulher negra, africana e sexualizada. “Vivencio todos os estereótipos que coloco no palco como um ser humano do sexo feminino com um lugar no mundo”, destaca a atriz.

Levar a discussão para a cena, continua a artista, foi quase terapêutico. “Não é fácil fazer rir a partir de algo que te machuca. Foi um longo percurso até conseguir lidar com isso. Entender que posso sobreviver às coisas que abordamos no espetáculo, fazendo-as chegar até o público de alguma forma”, comenta.  No palco, um trio executa a trilha original criada por Simon Ho para o espetáculo, com um sound que vai dos salões da burguesia até os porões do punk rock.

Atualmente vivendo em Berna, na Suíça, Ntando diz que seu trabalho é fruto de experiência de vida. “Morar na Europa teve uma grande repercussão no meu trabalho. Tenho que, constantemente, me enxergar como mulher africana através do olhar do outro. Isso me fez pensar muito”, diz.

A reação da plateia pode ser surpreendente até mesmo para quem assiste. “Acontece de pessoas entrarem no teatro crentes de não serem racistas e saírem com a consciência de que, mesmo se considerando livres de preconceitos, não têm sequer um amigo negro, ou alguém de pele preta que frequente o seu círculo social ”, afirma.

A companhia Manaka Empowerment Productions foi fundada em 2014 por Ntando Cele, junto com o compositor e músico Simon Ho, além do escritor, músico e consultor de dramaturgia Raphael Urweider. A companhia está sediada na cidade de Berna e as montagens combinam performance, música, texto e vídeo, desafiando identidades, enfrentando preconceitos e buscando detectar estereótipos.

Os ingressos para o espetáculo Black Off estão disponíveis na Bilheteria Central do FILO no Royal Plaza Shopping, no site www.filo.art.br e na portaria do teatro, uma hora antes do início do espetáculo.

Janaína Ávila/Assessoria FILO

Ficha Técnica

Texto: Ntando Cele e Raphael Urweider
Direção e atuação: Ntando Cele
Composição/ Piano: Simon Ho
Guitarra: Patrick Abt
Bateria: Pit Hertig
Técnico: Maria Liechti
Produção: Michael Röhrenbach
Coprodução: Migros Culture Percentage.

Apoio: Pro Helvetia – Swiss Arts Council.

Uma coprodução com o PRAIRIE, modelo de coprodução do Migros Culture Percentage para companhias de teatro e dança inovadoras da Suíça.

 

Serviço:

Festival Internacional de Londrina – FILO 2017

De 11 a 27 de agosto

Realização: Associação dos Amigos da Educação e Cultura Norte do Paraná e Universidade Estadual de Londrina

Patrocínio: Petrobras, Governo Federal, Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), Caixa Econômica Federal, Unimed.

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