Espetáculo ‘Karaíba, do Rio de Janeiro, será apresentado nesta quarta e quinta-feira, às 19 horas, no Espaço Villa Rica
Com equipe composta majoritariamente por artistas indígenas, “Karaíba” é uma odisseia sonora teatral voltada para todos os públicos que faz uma releitura da pré-história brasileira antes da chegada dos portugueses. O espetáculo está na programação do FILO desta quarta e quinta-feira, às 19 horas, no Espaço Villa Rica.
Baseada na obra homônima de Daniel Munduruku, a história mescla mitologia indígena e aventura. Idealizado pela produtora Juliana Gonçalves, a montagem repensa lacunas da pré-história brasileira e elucida o encontro com os europeus como parte da narrativa, não o início dela. Também atuando como historiadora, Juliana conta que a inspiração para a montagem surgiu em uma pesquisa sobre revisão histórica colonial durante a pandemia.
“Ao longo da minha pesquisa me deparei com o livro do Daniel Munduruku que foi fundamental para o desenvolvimento desse trabalho; um exercício de imaginação do que seria a vida antes dos europeus”, conta. “É um livro que provoca novos imaginários. Decidi entrar em contato com o Daniel. Não nos conhecíamos, mas logo começamos a pensar juntos nesse projeto de transformar o livro dele em espetáculo”, relembra.
Partindo do protagonismo das narrativas indígenas, o público irá participar desse exercício de imaginação sobre como seriam os povos e a vida nestas terras antes da chegada dos portugueses há 523 anos. O canto, a dança, a poesia, a oralidade e a sonoridade compõem essa história cheia de ensinamentos e alianças.
“A montagem é uma forma de resistência não só diante dos eventos trágicos recentes. A tragédia acontece desde o primeiro encontro e este espetáculo faz a gente repensar tudo aquilo que aprendemos na escola. O livro termina com os indígenas avistando as caravelas, mas a gente faz todo um apanhado dos últimos acontecimentos”, adianta Juliana.
Para a realização da montagem, Juliana ressalta que foi fundamental o apoio da Aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro, que proporcionou o acesso a uma grande rede de artistas indígenas profissionais. “Fazia parte do nosso compromisso ético que os atores indígenas fossem protagonistas dessa história e foi surpreendente ter contato com tantos artistas indígenas aqui no Rio de Janeiro. É preciso nos atentarmos a isso e procurar ter acesso a essas redes em outros estados também”, observa.
O ator Danilo Canindé integra o elenco e afirma que, infelizmente, ainda não é comum ter montagens com atores indígenas como protagonistas. “Foi muito importante que isso tenha sido pensado, pois não temos muita acessibilidade. É preciso ver a importância do movimento indígena além de uma questão artística. Dessa forma expandimos a rede, fortalecemos o coletivo e o individual”, ressalta.
“A peça parte da ficção, mas estamos falando de nós mesmos, isso atravessa os nossos corpos. Trazemos uma discussão urgente que envolve a retomada identitária, a reconexão com a ancestralidade e, inevitavelmente, a importância do debate das demarcações dos territórios”, destaca.
“Estamos tendo retornos bem emocionados do público. Propomos um exercício poético bonito e a intenção é que o espectador se questione sobre quantas histórias ainda não conhece e que poderiam ter acontecido. O espetáculo só é o que é porque é contado por atores indígenas”, conclui Juliana.
Ana Paula Nascimento
Assessoria de Comunicação FILO
Ficha Técnica:
Idealização: Juliana Gonçalves.
Direção: Rafael Bacelar.
Dramaturgia: Idylla Silmarovi.
Ass. de direção: David Maurity e Marcus Liberato.
Direção de Produção: Juliana Gonçalves.
Produção executiva: Marcus Liberato.
Assistente de produção: Tainá Campos.
Elenco: Danilo Canindé, Jéssica Meireles, Ludimila D’Angelis e Yumo Apurinã.
Atriz convidada/voz off: Carolina Virgüez.
Direção de arte: Winona Evelyn.
Visagismo: Luisa Kwarahy.
Grafismos: Sandro Akroa e Urutau Guajajara.
Figurino: Wanglêys Mendonça.
Direção Musical: Felipe Storino.
Iluminação e operação de luz: Caio Senicato.
Operação de som: Luzé e Felipe Storino.
Identidade Visual: Isza Santos.
Arte digital: Wanessa Ribeiro.
Assessoria de Comunicação: Una Terra.
Duração: 50 minutos.
Classificação etária: Livre.
Com intérprete de LIBRAS.
Foto: Fabio Alcover/FILO