Espectadores com mais de 70 anos foram vistos com mais frequência na edição deste ano do Festival, em quase todas as salas e apresentações ao ar livre

O público da terceira idade foi presença marcante na edição do FILO 2023. Durante os 16 dias de festival, espectadores com mais de 70 eram vistos com frequência nas salas de espetáculos e também nas ruas, aproveitando a diversidade da programação. Nem os dias mais intensos de inverno durante o início do Festival inibiram a presença desse público tão especial. E muito fã de teatro.

As irmãs Marília Bologna, 77 anos, e Marina Bologna, 84, são apaixonadas por teatro desde crianças. E, no FILO, lá estavam elas para assistir a oito peças teatrais de estilos diversos. As preferidas? “WWW Para Freedom”, de Esio Magalhães, “Ao Ponto”, de Aneliza Paiva, e “Tijuana”, do grupo mexicano Lagartijas tiradas al sol.

Sempre acompanhadas por Mariana Bologna, filha da Marina, elas também costumam convidar os amigos para curtirem juntos esses eventos culturais. “Aprendi com a minha mãe a gostar de teatro. Somos do interior de São Paulo e, naquela época, a gente assistia aos teatros nos circos itinerantes que passavam pelas cidadezinhas. Não tinha sala de espetáculo. Às vezes acontecia uma apresentação ou outra no salão paroquial”, relembra Marina.

Professora aposentada, desde 2010 ela mora em Londrina, onde passou a curtir o Festival e a produção local de teatro no decorrer do ano. “Devemos essa paixão pelo teatro à nossa mãe. Ela era uma pessoa muito simples, mas com o dinheiro do seu trabalho de costureira pagava os nossos passeios ao circo e, depois, ao teatro e cinema”, recorda.

“O teatro tem a magia de ser algo ao vivo e, mesmo que você não goste da peça, sempre há muitas coisas para observar: a atuação dos atores, a direção, o cenário… É muito bom, ficamos sabendo das novidades e nos atualizamos”, garante a simpática Marina, já animada para a edição do ano que vem.

Dona Marli de volta ao FILO

Marli Pereira da Silva, 72: de São Paulo para a maratona de espetáculos do FILO (Foto: Fabio Alcover)

Pelo segundo ano consecutivo, a aposentada Marli Pereira da Silva – carinhosamente conhecida pelo público do FILO como Dona Marli – vem de São Paulo para acompanhar o Festival. Na edição de 2022, ela já  foi destaque no quadro “Personagens da vida real no FILO”, contando sobre suas constantes viagens para acompanhar festivais de teatro pelo Brasil – ela já chegou a assistir a 53 peças em um único evento.

Fã de carteirinha da arte teatral, aos 72 anos ela viajou da capital paulista para participar da segunda semana de programação do FILO 2023. Dinâmica e muito entrosada, ela não se importa em viajar ficar sozinha e nem mesmo em não ter companhia para assistir aos espetáculos – cuidadosamente selecionados por ela. “Eu me organizo com bastante antecedência para conseguir prestigiar o festival. Londrina, definitivamente, faz parte da minha programação cultural agora”.

Sobre a edição atual, ela conta que ficou feliz em poder ver, pela segunda vez, dois espetáculos que prestigiou em outro festival: “Isso foi determinante para estender a minha estadia aqui. Posso dizer que sou outra pessoa após assistir novamente aos espetáculos “Sobrevivente”, de Nena Inoue, e “Karaíba”, do grupo formado por indígenas do Rio de Janeiro. São duas peças que me fizeram refletir sobre muitas coisas. Com certeza, não sou a mesma pessoa”, destaca.

Sobre a linha curatorial do FILO 2023, que destaca questões políticas envolvendo as lutas da comunidade negra, dos corpos dissidentes e dos marginalizados, Dona Marli reflete: “A arte tem o poder de nos sensibilizar pela leitura dos símbolos espalhados pelo palco. Tem um ritmo diferente de nos contar algo, dá tempo de refletirmos sobre o assunto com sensibilidade. É diferente de quando vemos os noticiários”, diz a aposentada, que já trabalhou como bancária, funcionária pública e secretária de escola. Aliás, como ela gosta de frisar: “me aposentei do trabalho, mas não da vida”.

Ana Paula Nascimento
Assessoria de Comunicação FILO