Em “Stabat Mater”, Janaína Leite (São Paulo/SP) coloca sua mãe biológica em cena e revisita traumas em performance autobiográfica

Nesta quarta e quinta-feira, dias 22 e 23, o Festival Internacional de Londrina – FILO 2022 apresenta ao público o espetáculo “Stabat Mater”, com a atriz Janaína Leite, de São Paulo. As apresentações acontecem às 21 horas, na Divisão de Artes Cênicas/UEL e os ingressos estão esgotados. 

A partir do texto teórico Stabat Mater (em latim, “estava a mãe”) da filósofa e psicanalista Julia Kristeva, a artista e pesquisadora Janaína Leite propõe uma montagem em formato de plateia-performance sobre o feminino. Percorrendo uma trajetória profissional autobiográfica, em que aborda nas suas montagens traumas vividos, Janaína conta que em “Stabat” ela conseguiu chegar em territórios delicados, que ao longo de 15 anos de carreira ainda não tinha conseguido atingir.

“Foi uma chance de sair de um espaço claustrofóbico da experiência pessoal intensa e ter a dimensão política também dessas vivências. É importante entender que você não é uma vítima solitária e que tudo isso é uma engrenagem muito maior que você”, conta sobre o trabalho. 

Em “Stabat Mater”, Janaína mistura os temas sexualidade e maternidade, tendo o terror e a pornografia como bases estéticas. E faz isso atuando no palco ao lado de sua mãe biológica, Amália Fontes Leite, que não é atriz, e pela figura de Príapo, personagem para o qual se buscou um ator pornô. 

Quando fala sobre a possibilidade de revisitar e ressignificar, por meio de seu trabalho, traumas vividos, Janaína aponta que a arte é um espaço de autoconhecimento, mas com a potência de uma expansão do campo do vivido. Segundo ela, realizar “Stabat Mater” só foi possível por ter encontrado no mundo um eco para politizar essa dimensão do trauma. 

“Nessa montagem a questão do estupro é muito forte e, enquanto produzia a peça, eu encontrava interlocução em uma série de frentes, desde os movimentos feministas aqui no Brasil até a literatura; e entendi que era possível abordar assuntos dessa natureza”, contextualiza.

Consciente de que a montagem desperta no público as mais diversas e adversas reações justamente por aproximar a arte da vida, tratando de assuntos como o estupro, a performer conta que com o auxílio da psicoterapia para receber e entender as críticas e até o espanto do público. 

Para Janaína, cada um projeta a mãe que tem ou a mãe que gostaria de ter na atuação de Amália, “desde uma vítima, uma mulher abnegada que está ali porque a filha mandou, até uma heroína, resiliente, com a força das mães”.  Ela conta que sua mãe topou o desafio de forma muito tranquila e que gosta de estar em cena. 

Para a atriz, a arte tem como potencial ser o lugar de uma transgressão da lógica do eu, um lugar mais radical de autoconhecimento que não visitamos no dia a dia. “Na arte é possível deixar coisas em aberto. Mesmo as sombras, os lugares difíceis,  podem ter um lugar bonito de elaboração. Na arte, esses lugares tem uma potência” aponta.

Na quinta-feira, às 15 horas, Janaína Leite realiza um bate-papo no Sesc Cadeião. Ela irá abordar aspectos da construção de “Stabat Mater”. Atividade aberta ao público adulto.

Janaína Leite é referência na pesquisa sobre o uso de documentário e autobiografia no teatro brasileiro. Por “Stabat Mater”, ela conquistou o Prêmio Shell de Dramaturgia. O espetáculo não é recomendado para menores de 18 anos.


(Juliana Boligian/Assessoria FILO)

 

SERVIÇO: 

Stabat Mater, Janaína Leite (São Paulo/SP)

Onde: Divisão de Artes Cênicas/UEL

Quando: 22 e 23 de junho, às 21 horas

 

Ingressos esgotados