O premiado grupo Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, apresenta nesta sexta-feira (30) espetáculo de rua que usa o humor como ferramenta para tocar em temas importantes 

Nesta sexta (30), o grupo Clowns de Shakespeare compõe a programação do FILO 2023 com o espetáculo “Ubu – O que é bom tem que continuar!”, uma colaboração da companhia com os também potiguares Facetas e Asavessa. A apresentação acontece na Praça Tomi Nakagawa, às 19 horas, e é gratuita.

“Ubu: o que é bom tem que continuar!” parte das histórias dos personagens Pai e Mãe Ubu, da clássica obra Ubu Rei, de Alfred Jarry. A peça trata de Pai Ubu e sua esposa, a Mãe Ubu, e suas rocambolescas armações em uma insaciável busca pelo poder.

Em diálogo e continuação do trabalho de Jarry, “Ubu: O que é bom tem que continuar!” desloca esses personagens para um país/lugar-nenhum com ares latino-americanos. Após fugirem da Polônia por causa de uma tentativa de golpe frustrada, Pai e Mãe Ubu aportam em Embustônia. Nesse novo ambiente, em meio a influencers e cachos de bananas, Pai Ubu e Mãe Ubu continuarão sua saga alucinada e insaciável pelo poder.

Assim como na obra original, a sátira política – centrada nessas personagens, mas presente no trabalho como um todo – pretende dialogar diretamente com o público, trazendo à cena temas como injustiças sociais e manipulação de informação. A pesquisa se deu a partir do trabalho de bufão, da música composta e executada pelo próprio elenco e da potência do teatro popular enquanto espaço coletivo de comunicação, troca e construção de pensamento crítico.

A equipe de comunicação do FILO conversou com Fernando Yamamoto, diretor e dramaturgo do grupo, que retorna ao Festival Internacional de Londrina depois de mais uma década (a trupe apresentou “Sua Incelença, Ricardo III” em 2011, no Zerão: “Está sendo muito bonito esse momento que estamos passando, de revisitar festivais que foram muito importantes na nossa história”, destaca ele.

Confira a entrevista completa:

“Ubu – o que é bom tem que continuar!” é inspirada no clássico Ubu Rei, de Alfred Jarry. Fale um pouco sobre a escolha por dialogar com essa obra? O que esse clássico nos diz hoje?

O Ubu Rei é uma peça clássica que infelizmente segue atual e diz muito respeito ao mundo inteiro hoje. No entanto, a ideia de escrever uma continuação de Ubu Rei partiu do desejo/necessidade de tratar de questões mais específicas do ambiente latino-americano. Então partimos para uma recriação, imaginando essa continuação de Pai e Mãe Ubu depois que fogem da Polônia, no final da obra do Jarry, chegando a um país fictício latino-americano. Isso faz parte da pesquisa que o grupo [Clowns de Shakespeare] vem desenvolvendo há 15 anos sobre a América Latina, trazendo essas questões de forma mais potente para esse universo.

“Ubu – O que é bom tem que continuar!” é um espetáculo de rua. Como esse contato com as pessoas e o cotidiano da cidade interferem nesse trabalho?

A gente estreou esse espetáculo entre o primeiro e o segundo turno das eleições do ano passado, em Campo Grande (MS), um estado tradicionalmente muito conservador. É um espetáculo que foi criado na perspectiva e no desejo de poder ir para todos os lugares e ser apresentado para um público além daquele que costumeiramente assiste teatro. Então apresentar na rua é justamente para chegarmos ao público que não é usual do teatro, para que a gente possa apresentar e discutir, de uma forma lúdica e divertida – mas também ácida -, essas questões, para que elas possam ser trazidas à tona. Por isso é um espetáculo cujo espaço é tão importante para sua concepção – é na rua, em roda, pode ser apresentado de noite ou de dia e não precisa de recursos técnicos muito sofisticados, justamente para poder ser levado a qualquer lugar.

Usar o humor para tocar em temas políticos importantes é uma forma de alcançar mais o público? Como a plateia tem reagido a “Ubu” nas outras apresentações de vocês?

É uma premissa do grupo apostar no teatro popular, no humor e na comédia como um recurso crítico…. o riso como um recurso de reflexão. A gente entende que o riso tem uma potência que muitas vezes a crítica séria não consegue atingir. A resposta ao “Ubu” tem sido muito boa porque, infelizmente, as questões que tratamos no espetáculo estão muito presentes para o público brasileiro, por tudo o que vivemos nos últimos quatro anos no país. E isso também está alastrado pelo resto do continente e do mundo. Estamos vendo uma onda de ódio, de ultradireita, de abuso de poder e intolerância muito forte, então inevitavelmente é um espetáculo que toca a partir de seus pontos de vista.

No que Embustônia, esse país com ares latino-americanos, se aproxima do Brasil?

Por mais que a gente tenha evitado fazer qualquer tipo de referência direta, por achar que não era necessário, o ambiente brasileiro é o que esteve mais presente na construção desse trabalho.

O grupo Clowns de Shakespeare completa 30 anos de história neste ano. Como vocês avaliam estar no FILO 2023, um dos festivais de teatro mais antigos da América Latina, com dois trabalhos?

Estamos muito felizes de voltar a Londrina! Já faz mais de uma década que estivemos no FILO e todo mundo sabe que se trata de um dos principais festivais de teatro do país, que tem uma importância muito grande na forma de pensar o desenvolvimento da linguagem do teatro no país, nas suas ações formativas… nesse sentido, agora chegando aos 30 anos do grupo, está sendo muito bonito esse momento que estamos passando, de revisitar festivais que foram muito importantes na nossa história. E, com certeza, o FILO está entre eles! Pra gente, é uma alegria não só estar no FILO, mas estar no FILO com duas obras [“Ubu” e “Abrazo”] nesse momento. Estamos bastante ansiosos para encontrar com o público.

 

Layse Barnabé de Moraes
 Assessoria de Comunicação FILO

Ficha Técnica

Direção e Dramaturgia: Fernando Yamamoto.
Elenco: Caju Dantas, Deborah Custódio, Diogo Spinelli, Paula Queiroz e Rodrigo Bico.
Colaboração Dramatúrgica: Camilla Custódio.
Figurino e Adereços: Marcos Leonardo.
Cenografia: Fernando Yamamoto e Rafael Telles.
Dramaturgia Musical: Marco França e Ernani Maletta.
Composições: Músicas de Marco França (exceto “Marcha Da Votação”, de Ernani Maletta) e letras de Fernando Yamamoto.
Colaboradores Musicais: Franklyn Nogvaes, Maria Clara Gonzaga, Júlio Lima e Caio Padilha.
Produção: Talita Yohana.
Fotos: Tiago Lima, Damião Paz e Luiza Rose.

Classificação indicativa: Livre

Duração: 60min

“Ubu – O que é bom tem que continuar” – Clowns de Shakespeare (Natal – RN)
Data: 30 de junho (sexta-feira)
Horário: 19h
Local: Praça Tomi Nakagawa

GRATUITO