A atriz do espetáculo ‘Para Não Morrer’ conversa com estudantes e convida à resistência. Atividade faz parte da programação de atividades formativas do FILO
A série de bate-papos promovidos pelo Festival Internacional de Londrina dentro da programação de atividades formativas recebeu hoje pela manhã a atriz Nena Inoue, de Curitiba, para uma conversa com o público na Biblioteca Municipal. Ela falou sobre os problemas políticos e sociais que assolam o Brasil e disse acreditar que é preciso “outra pegada” para sair dessa maré ruim.“Meu espaço de resistência agora é esse espetáculo… A minha função é ser uma mulher do teatro”, disse.
A memória é um dos aspectos mais importantes na construção da obra. “Não se esqueça, para que nunca mais aconteça”, sentencia a atriz, que vê no espetáculo um resultado de resistência, não só feminista, mas de vítimas da ditadura, da escravidão e da questão indígena. Em cena, a personagem reforça o poder de narrar e dispensa movimentos que possam atrapalhar seu objetivo principal. Durante o bate-papo, ela descreveu a obra como uma reunião dos alcoólicos anônimos, onde os relatos fortalecem o outro. A atriz fez questão de ressaltar a importância do FILO, o descrevendo como um festival de resistência.
O espetáculo “Para não Morrer” é um trabalho coletivo da atriz Nena Inoue com a parceira de criação Babaya Morais e o dramaturgo Franscismo Mallmann, o mais novo na equipe, com 22 anos. Com esta montagem, o grupo Espaço Cênico se despede do FILO nesta segunda-feira (21), às 21 horas, na Usina Cultural. Ainda há ingressos disponíveis para a apresentação. A montagem recebeu três indicações para o Prêmio Gralha Azul 2017: melhor atriz, para Nena Inoue, cenário, para Ruy Almeida, e figurino, para Carmem Jorge.
“Para Não Morrer” aborda histórias de resistência essencialmente femininas. Várias vozes de mulheres latino-americanas ganham espaço na narração de Nena Inoue, atriz que chegou à Curitiba com apenas nove anos de idade e já está no teatro há 40 anos. Esse é o seu primeiro trabalho solo. Com um cenário simples, uma mulher vivida fala num fluxo descontínuo durante uma hora e só mexe uma das mãos. A expressão corporal da atriz indica as marcas do tempo e das vidas dessas mulheres, gestos e características que foram surgindo durante o processo de criação, explica Inoue.
Foi ao ler o livro ‘Mulheres’ do escritor Eduardo Galeano, que apareceram as ideias. “Andando de um lado para outro em casa, decorando deitada o texto, percebi que a minha boca torta, naquela posição, deveria ser parte da obra”, conta. O mesmo para a rigidez dos pés e uma das mãos. Além disso, longos fios de cabelo cobrem o corpo nu da artista.
Participantes
A maior parte do público presente no bate-papo era de estudantes do curso de Artes Cênicas. Fabricio Bianchi, aluno do primeiro ano, disse que a resistência presente na peça é abrangente, não só para as mulheres. Para ele, a montagem é “uma construção poética, pela a imagem que ela passa”, diz. Ao final do bate-papo, foi a vez dele responder à última pergunta da atriz Nena Inoue. Ela quis saber o que o estudante tinha achado dos cabelos que cobriam o corpo da atriz: “a sensação era de que ela fosse muito velha”, disse Fabricio. “Talvez ela esteja morta”, rebateu Nena Inoue.
Lavinia Oliveira, também estudante do curso de Artes Cênicas, destacou que se sentiu representada. Lembrou que a resistência é algo que se vive todo dia, mas só atualmente tem se falado mais da mulher. “É bonito ver alguém que usa do seu tempo, da sua arte para criar toda uma situação e contar toda uma história, dar uma aula, não só para as mulheres, mas também para os homens…Tinham vários que estavam sentados, chorando”, conta.
“Achei interessante a forma poética como ela aborda a ancestralidade, sentia falta de ver”, comenta a estudante Leticia Pocaia, do segundo ano de Artes Cênicas. Ela está fazendo um trabalho de pesquisa para montar uma cena solo e diz que encontrou na montagem uma referência para criar sua própria cena. Para ela, isso reforça a importância de voltar às raízes culturais. “A gente tem muitas culturas que formam uma pessoa, a atriz mesma se afirma como latina americana, mulher com descendência japonesa, argentina, negra” completa Leticia.
Os bate-papos fazem parte da programação formativa do FILO e são abertos a todos os interessados. O próximo será na quarta-feira, dia 23, na Biblioteca Pública, às 10h, com o grupo Tablado de Arruar (SP) que participa do FILO com a trilogia “Abnegação”, em cartaz amanhã, terça-feira 22, quarta-feira 23 e quinta-feira 24, na Usina Cultural, em dois horários: às 19 e 21 horas. Mais informações sobre as atividades formativas pelo telefone: (43) 3322 1030.
Assessoria de Comunicação FILO
Fotos: Fábio Alcover
Serviço:
Festival Internacional de Londrina – FILO 2017
De 11 a 27 de agosto
Realização: Associação dos Amigos da Educação e Cultura Norte do Paraná e Universidade Estadual de Londrina
Patrocínio: Petrobras, Governo Federal, Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), Caixa Econômica Federal, Unimed.