Um olhar infantil sobre a guerra

Amok Teatro, do Rio de Janeiro, apresenta no FILO 2015 obra que retrata o conflito que gerou horror e destruição à região da ex-Iugoslávia nos anos 1990

Depois de abordar o conflito no Oriente Médio, com o espetáculo “O Dragão”, em 2008, e realizar um mergulho no Afeganistão, com “Kabul”, em 2010, a companhia carioca Amok Teatro encerra a sua “Trilogia da Guerra” com “Histórias de Família”.  O espetáculo integra a programação do FILO 2015, dentro da Mostra Petrobras, será apresentado nos dias 17 e 18 de agosto, no Cine Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã.

“Histórias de Família” traz à cena a guerra de desintegração da Iugoslávia nos anos 90, através do olhar da infância. O espetáculo estreou em junho de 2012 no Festival Cena Brasil Internacional e foi um dos espetáculos selecionados para participar da Mostra do Teatro Brasileiro nos Festivais de Avignon (França) e Edimburgo (Escócia).

Maior projeto do grupo desde a sua fundação, a “Trilogia da Guerra” procura trazer para o teatro questões do mundo contemporâneo, abordadas a partir do olhar do “outro”, trazendo três espetáculos independentes, com diferentes linguagens cênicas. As duas primeiras montagens que  compõe a trilogia (“O Dragão”  e “Kabul”) já foram apresentadas em Londrina, no FILO 2010.

Em “Histórias de Família” o grupo realiza uma montagem do texto da dramaturga sérvia Biljana Srbljanovic, que pela primeira vez tem uma produção encenada no Brasil. No texto, que foi censurado na Sérvia, a autora descreve a confusão na qual seu país mergulhou, sob a liderança de dirigentes cuja ideologia levou toda a região dos Balcãs à barbárie e à destruição.

Nas ruínas da Iugoslávia destruída pela guerra, quatro personagens brincam de família, reproduzindo o comportamento delirante de adultos desorientados. Pouco a pouco revela-se a lógica da guerra, criada e mantida pelo poder político, que se manifesta em todos os níveis da sociedade. Por meio das brincadeiras, são percebidas fraquezas e medos. O jogo termina e logo tudo recomeça. A violência da brincadeira substitui a violência dos combates e nesse ritual, à imagem do clima político, a tensão entre todos é extrema.

Nesta “negra paródia familiar”, a autora nos convida a enxergar a guerra por meio do lúdico e do derrisório e a ver o teatro como o lugar onde os adultos continuam a fazer aquilo que fazem as crianças: produzir jogo. “Histórias de família” ultrapassa as circunstâncias históricas e geográficas para apresentar um jogo repleto de humor e crueldade, que nos fala com grande atualidade. Essas histórias são, ao mesmo tempo, a imagem da situação da ex-Iugoslávia e a de qualquer sociedade.

 

SOBRE A AUTORA

Biljana Srbljanovic nasceu em Belgrado, em 1970. Em 1996 escreve sua primeira peça, “A trilogia de Belgrado”, montada no ano seguinte com enorme sucesso. Em seguida vieram “Histórias de Família” , que recebeu o Prêmio de melhor peça original no Festival de Novi Sad, em 1998, “A queda” (criada no Festival de GradTeatar de Budva – Montenegro, em 2000), “Supermercado“ (criada no Festival de Viena em 2001 por Thomas Ostermeier) e “Amerika, suite” (2003).

Suas peças foram montadas em diversas cenas internacionais, por diferentes encenadores e traduzidas em 20 línguas. Biljana Srbljanovic é uma autora sérvia que se opôs firmemente ao regime de Milosevic e cuja coragem se manifestou não somente em seus escritos, mas também em sua recusa em deixar Belgrado durante os bombardeios da Otan. Biljana também ficou conhecida por publicar, em 1999, as Crônicas de Belgrado no “Der Spiegel” e “La Repubblica”, arriscando ser vista como “traidora” por seu governo e por uma grande parte de seus compatriotas.

 

AMOK TEATRO

Dirigido por Ana Teixeira e Stephane Brodt, o Amok Teatro se dedica a uma pesquisa contínua do trabalho do ator e das possibilidades de encenação. Além dos espetáculos, a companhia desenvolve uma intensa atividade pedagógica, com ênfase na formação de atores e mantém, em sua sede, a Casa do Amok (aberta em 2004), projetos de pesquisa, formação e intercâmbio, apoiando o trabalho de grupos e artistas de diferentes segmentos.

Desde sua fundação, em 1998, o grupo tem recebido os mais importantes prêmios de teatro brasileiro e um grande reconhecimento de público e crítica. Com “Cartas de rodez” (1998) recebeu o Prêmio Shell de direção, de melhor ator e o prêmio Mambembe de melhor espetáculo, além da indicação de direção.

Pelo espetáculo “O carrasco” (2001) o grupo recebeu o prêmio Governo do Estado de espetáculo e foi indicado para direção e categoria especial para maquiagem e figurino, além da indicação para o prêmio Shell de melhor atriz e categoria especial para maquiagem. “Macbeth” (2004) foi indicado para o prêmio Shell de figurino e para o prêmio BR de Qualidade de espetáculo e de melhor ator. “Savina” (2006) foi indicado ao prêmio Shell de figurino. “O dragão” (2008) foi indicado para prêmio Quem de melhor ator e atriz. E “Kabul” (2010) ganhou o prêmio especial APTR.

 

FICHA TÉCNICA

Texto: Biljana Srbljanovic

Direção e Adaptação: Ana Teixeira e Stephane Brodt

Elenco: Rosana Barros, Stephane Brodt, Vanessa Dias e Wanderson Rosceno

Iluminação: Renato Machado

Cenário: Ana Teixeira

Figurinos e Objetos de cena: Stephane Brodt

Costureira: Dora Pinheiro

Cenotécnico: Manoel Puoci

Produção: Amok Teatro

 

Serviço:

Dias 17 e 18 de agosto

20 horas

Cine Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã

Drama adulto – 70 minutos – 14 anos

 

Festival Internacional de Londrina – FILO 2015
De 14 a 30 de agosto
Promoção: Associação dos Amigos da Educação e Cultura Norte do Paraná e Universidade Estadual de Londrina
Direção: Luiz Bertipaglia
Patrocínio: Petrobras, Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), Caixa Econômica Federal, Copel/Governo do Estado do Paraná, Unimed Londrina, Horizon – John Deere e Ministério da Cultura / Governo Federal /Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Apoio: SESI Londrina, Royal Plaza Shopping, W2 Digital, Bar Valentino, Fecomércio PR/SESC, M&M Brasil, UEL FM, Doce Sabor, RPC, Fundação Cultural de Ibiporã, Itamaraty e Geleia Mob APP.
Realização: Ministério da Cultura / Governo Federal