Em um bate-papo sobre o espetáculo “Stabat Mater” apresentado no FILO 2022, Janaína Leite (São Paulo/SP) contou sobre como costurou suas experiências pessoais com a construção de seu trabalho autoral

 

A atriz, dramaturga e diretora Janaina Leite, de São Paulo, que fez duas sessões de “Stabat Mater” no Festival Internacional de Londrina – FILO 2022, participou de um bate-papo no Sesc Cadeião, e falou sobre seu processo criativo da montagem.

No encontro, Janaina lembra que ao ter seu primeiro filho começou a refletir, tardiamente, sobre a inviabilização do feminino em seu espetáculo anterior, “Conversas com meu Pai”- apresentado em Londrina na edição 2014 do FILO. “Encontrei o artigo Stabat Mater, da psicanalista Julia Kristeva, e concebi a montagem a partir da construção desse feminino que o Ocidente liga ao materno, no qual a mulher que é mãe é separada da sua sexualidade”, explica. 

“Stabat Mater” – ou “a mãe lá estava” – é uma referência ao poema do século XII que consagrou o tema da jovem mãe aos pés do filho padecendo na cruz. 

Na montagem em formato de palestra-performance, que perpassa a história da Virgem Maria ao longo dos séculos, Janaína trabalha o real obsceno (tema de sua pesquisa no doutorado na USP) e coloca em cena sua mãe real, Amália Fontes Leite, e um ator pornô. 

“A partir de ‘Stabat Mater’ levei meu teatro para a abordagem da pornografia e acabei encontrando uma espécie de conciliação entre o masculino e o feminino no meu trabalho artístico”, conta sobre o processo que resultou na palestra-performance virtual, criada no contexto da pandemia, “Camming – 101 noites”. 

A atriz contou ainda sobre o trabalho para sair da experiência solitária virtual e migrar para a coletiva, em  “História do Olho – um conto de fadas pornô noir”, que estreou em junho na 8a. MIT – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. O espetáculo é uma livre adaptação da novela “História do Olho”, de Georges Bataille, no qual Janaina segue sua pesquisa entre teatro e pornografia e, mais uma vez, mistura ficção e não ficção. A montagem fica em temporada no Teatro da Universidade de São Paulo (TUSP), de 8  a 24 de julho.