Encenadores Ricci e Forte desnudam as relações descartáveis que imperam no mundo do consumo imediato no FILO 2015

As relações humanas em um mundo dominado pelo consumismo, colocadas no palco com crueza e sem disfarces no espetáculo “Macadâmia Nut Brittle”, que a companhia Ricci/Forte, da Itália, traz para o Festival Internacional de Londrina – FILO 2015. O espetáculo, que é apresentado pela primeira vez na América Latina, poderá ser visto nos dias 27, 28 e 29 de agosto, às 20h30, no Espaço Petrobras (Av. Celso Garcia Cid, 1489).

O espetáculo coloca em cena quatro jovens viciados em sorvete de macadâmia (o “Macadamia Nut Britlle” a que se refere o título), que buscam o amor num mundo onde a autodescoberta e a autodestruição se confundem. Para narrar este cotidiano, os italianos Stefano Ricci e Gianni Forte foram buscar voz na poesia crua do poeta californiano Dennis Cooper.

“O espetáculo busca colocar o consumismo em oposição aos valores humanos e propor uma reconstrução da fantasia que se perdeu com a automatização das relações e possibilitar que público ilumine a própria existência com uma visão pessoal, e não com indulto do Estado”, comenta Ricci.

Forte salienta que o espetáculo não tem pretensão de entreter o público. A ideia, segundo o autor, é que a montagem seja um grande “espelho” em que as pessoas possam se enxergar, em uma realidade que muitas vezes se negam a acreditar que fazem parte. “Nem todas têm coragem de encarar este espelho, de ver o que está acontecendo em suas vidas, no mundo”, afirma.

O resultado é uma espécie de voo rasante em que o corpo do ator leva ao extremo suas possibilidades físicas, numa sucessão de cenas que viram do avesso a representação de nosso mundo – onde o humano se liquefaz sob o imperativo do consumo e os mecanismos de manipulação midiáticos. “Queremos manter um diálogo privado e direto com o público. Nossa companhia é reconhecida por provocar, escandalizar e transgredir, e assim estabelecer uma conexão intensa de maneira que, ao final, não se sabe que é performer e quem é público”, observa Forte.

Ricci diz que o espetáculo é uma transgressão que tem como meta “reativar o belo e o coração” das pessoas.  “Ao transgredir, buscamos romper elos e provar que ainda é possível estabelecer relações com o próximo”, diz.   Para Ricci, as relações estão, em todo o mundo, muito vinculadas ao mundo virtual possibilitado pela Internet. “Como no Facebook, as pessoas interagem com gente de toda parte, têm muitos amigos, curtem, compartilham, sabem sobre a vida uma das outras, mas tudo numa esfera virtual, e no fundo estão sós”, analisa.

O encenador diz que o espetáculo nasce a partir da obra de Cooper, que tem no sexo o motor principal das relações humanas. “Mas o que temos visto hoje é que o sexo virou uma sessão de ginástica, algo automático, que se consome como algo que se compra no supermercado, ou um sapato que compramos hoje e, amanhã, já descartamos”, compara.

Com forte pegada pop e cenas arrebatadoras, o espetáculo faz uma espécie de remix cênico com elementos e signos da moda, da publicidade, combinações de memória, videoclipe, musicais, filmes B, histórias em quadrinhos.

O espetáculo estreou em 2009 e tem se tornado objeto de culto, conectado a um público jovem e incensado pela crítica. Colecionando prêmios, a montagem italiana tem viajando por vários países e festivais da Europa e em Nova York (EUA).

Os diretores Stefano Ricci e Gianni Forte são formados na Accademia Nazionale Drammatica em Roma e na New York University, onde estudaram com Edward Albee. Saudados com “enfant terribles“, expressão mais atual da moderna cena italiana, se valem também das teorias do sociólogo polonês Zygmunt Bauman e sua concepção de “modernidade líquida”, momento em que a sociedade humana experimenta mudanças decisivas – na modernidade líquida, mesmo o sexo é uma força de atomização, não de união.

Nesta primeira apresentação de seu trabalho na América Latina, Ricci e Forte querem “sentir o coração das pessoas”. “Esperamos seres viventes! Contamos até com uma unidade cardiológica, caso alguém precise durante o espetáculo”, brinca Ricci.  Forte afirma que quando o espetáculo começou a ser apresentado na Europa, houve certo estranhamento. “Mas agora nosso trabalho é conhecido e reconhecido, não há mais tanto impacto”.

GUTO ROCHA/ASSESSORIA FILO


FICHA TÉCNICA

Elenco: Anna Gualdo, Fabio Gomiero, Giuseppe Sartori e Piersten Leirom

Dramaturgia: Ricci/Forte

Movimentos: Marco Angelilli

Direção Técnica: Danilo Quattrociocchi

Assistente de direção: Liliana Laera

Direção: Stefano Ricci

Site: www.ricciforte.com

Uma produção de Ricci / Forte em colaboração com Garofano Verde Festival.

MACADAMIA NUT BRITTLE – MOSTRA INTERNACIONAL

Companhia: Ricci/ Forte (Itália)

27, 28 e 29 de agosto

Às 20h30

Espaço Petrobras (Av. Celso Garcia Cid, 1489)

Teatro Adulto
Duração: 80 min.

Classificação: 18 anos

Festival Internacional de Londrina

De 14 a 30 de agosto

Promoção: Associação dos Amigos da Educação e Cultura Norte do Paraná e Universidade Estadual de Londrina

Direção: Luiz Bertipaglia

Patrocínio: Petrobras, Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), Caixa Econômica Federal, Copel/Governo do Estado do Paraná, Unimed Londrina, Horizon – John Deere e Ministério da Cultura / Governo Federal /Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Apoio: SESI Londrina, Royal Plaza Shopping, W2 Digital, Bar Valentino, Fecomércio PR/SESC, M&M Brasil, UEL FM, Doce Sabor, RPC, Fundação Cultural de Ibiporã, Itamaraty e Geleia Mob APP.

Realização: Ministério da Cultura / Governo Federal