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Artes em tempos de conflito

‘Neva’, da Armazém Cia. de Teatro (RJ), será apresentado nesta terça e quarta-feira, às 20h30, no Cine Teatro Ouro Verde

Depois de seis anos, a premiada Armazém Companhia de Teatro, do Rio de Janeiro, volta a se apresentar no Festival Internacional de Londrina nesta terça e quarta-feira, às 20h30, no Cine Teatro Ouro Verde, com o seu mais recente espetáculo, “Neva”.

“É emocionante poder voltar a Londrina. O FILO é fundamental na minha formação, na história do Armazém, na construção da nossa linguagem”, comenta o diretor Paulo Moraes.

Escrita em 2005 pelo escritor e diretor chileno Guilhermo Calderón, a montagem de “Neva” dirigida pelo próprio dramaturgo foi encenada no FILO 2010, pela Companhia Teatro em El Blanco.

“Neva” transporta o público para 1905, em um dia que ficou conhecido como “Domingo Sangrento”, em São Petersburgo, quando manifestantes por melhores condições de trabalho foram fuzilados pela Guarda Imperial Russa. O título da peça faz referência ao Rio Neva, que corta São Petersburgo, e chegou a ficar repleto de corpos boiando no trágico evento.

Em cena, o público irá acompanhar o que se passa nesse mesmo dia dentro de um teatro, onde um ator e duas atrizes, que iriam ensaiar “O Jardim das Cerejeiras”, acabam se abrigando do massacre nas ruas. Em destaque, Olga Knipper, primeira atriz do Teatro de Arte de Moscou que foi casada com o dramaturgo russo Anton Tchekhov, sente-se incapaz de representar depois que o marido morreu de tuberculose, pouco tempo antes.

Na tentativa de seguir vivendo, ela instiga Masha e Aleko a encenarem com ela a morte de Tchekhov. A partir daí uma série de questionamentos sobre o sentido da arte em tempos de conflito permeia a peça, em um aprofundamento dessa reflexão ainda pertinente.

“Neva” faz referência a uma Rússia conflagrada politicamente no início do século 20, ao Chile da década de 1970 e, de certa forma, ao Brasil desses anos obscuros. Partindo do desassossego, entre incertezas artísticas e embates políticos, a montagem impõe a seguinte pergunta: “para que serve o teatro?”.

Reinvenção do artista

“Essa temática nunca esteve tão atual, infelizmente, ainda mais após passarmos por um período pandêmico. De certa forma, essa montagem foi uma forma de nos reinventarmos enquanto artistas”, destacou Paulo de Moraes, em entrevista ao FILO.

Ele também considera que o teatro representa a “necessidade e a impossibilidade de sentir algo, no meio do caos, que mobiliza todos”, sendo, ao mesmo tempo, o ponto de encontro e o ponto de fuga para esses personagens.

Sobre a importância da arte e de um festival que carrega o signo da combatividade, como o FILO, Paulo de Moraes destaca: “Fazer teatro é fazer política. Temos a oportunidade de escolher os temas que iremos trabalhar e como iremos comunicar com o público para que veja o hoje, o ontem e a proximidade do amanhã com determinados olhos”, pontua.

O teatro, avalia o diretor, abre a possibilidade de ver o mundo com outros olhos, de forma mais atenta. “O Festival sempre teve uma atitude combativa, a gente dá voz ao outro. O teatro é para o outro, compartilhamos, comungamos de uma ideia, de um tempo. Acredito no potencial desse encontro”, conclui.

A montagem da Armazém Companhia de Teatro foi indicada na última edição do Prêmio Shell (RJ) de Teatro nas categorias de direção e iluminação.

Fundado há 36 anos em Londrina e radicado no Rio de Janeiro desde 1998, o grupo recebeu mais de 40 prêmios nacionais, sendo premiado duas vezes no Festival Fringe de Edimburgo (Escócia), com o prestigiado Fringe First Award (2013 e 2014) e no Festival Off de Avignon (França), com o Coup de Couer de la Presse d’Avignon (2014).

 

Ana Paula Nascimento
Assessoria de Comunicação FILO

Foto: Mauro Kury

 

Ficha Técnica:

Texto: Guillermo Calderón.
Direção: Paulo de Moraes.
Tradução: Celso Curi.
Elenco: Patrícia Selonk (Olga Knipper), Isabel Pacheco (Masha) e Felipe Bustamante (Aleko).
Interlocução Artística: Jopa Moraes.
Iluminação: Maneco Quinderé.
Música: Ricco Viana. Figurinos: Carol Lobato.
Instalação Cênica: Paulo de Moraes.
Maquete ‘Teatro de Arte de Moscou’: Carla Berri. Mecânica da Maquete: Marco Souza.
Design Gráfico: Jopa Moraes.
Fotografias: Mauro Kury.
Preparação Corporal: Patrícia Selonk e Ana Lima.
Técnico de Montagem: Djavan Costa.
Assistente de Produção: Malu Selonk e Amanda Rumbelsperger.
Produção: Armazém Companhia de Teatro.

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