Revelações sobre o poder
“Algo de Ricardo”, que o coletivo uruguaio Complot traz para o FILO 2015, lança luz sobre o jogo teatral
Do que o homem é capaz para conseguir o que almeja? O rei Ricardo 3º, personagem de William Shakespeare, utilizou-se de estratégias maquiavélicas para tomar o poder, em uma trajetória trágica e curta. O coletivo Complot, do Uruguai, inspirou-se no clássico personagem para construir o espetáculo “Algo de Ricardo” e falar desta ânsia pelo poder por meio do teatro. Mais precisamente, do metateatro, no qual o ator é um ente capaz de tudo para obter o poder, no caso, o papel que deseja interpretar. O espetáculo, que estreou em 2014 em Montevidéu, já foi apresentado na Colômbia, em São Paulo (SP) e em Salvador (BA). Agora chega ao FILO 2015, onde será reapresentado nesta segunda (24) e terça-feira (25), às 20h30, no Espaço Petrobras (Av. Celso Garcia Cid, 1489). Leia a seguir entrevista com o ator uruguaio Gustavo Saffores, concedida à Assessoria de Comunicação FILO.
FILO – Quem é este Ricardo que a Cia. Complot traz para o FILO 2015?
Gustavo Saffores – Trabalhamos com uma adaptação muito livre da obra de Shakespeare. Focamos, na verdade, no personagem central, por isso o nome “Algo de Ricardo”. A ideia é fazer um paralelo entre um personagem tão malvado, emblemático, sedutor e ao mesmo tempo querido, com o ofício do ator, que também tem estas características. Tomamos tudo isso como um jogo, em que um ator pode pensar e agir como Ricardo 3º, mas, que em vez de matar alguém para chegar ao trono, fala mal do elenco, gera conflitos o tempo todo para conseguir o papel do personagem e fazer a obra sozinho.
FILO – E, neste jogo, o que tem de você mesmo, enquanto ator?
Gustavo Saffores – Tem algumas partes do texto que tocam em minha vida pessoal, mas que é mais uma brincadeira a que o Gabriel (Calderón, dramaturgo, que escreveu a peça) se deu ao luxo de incluir, por sermos amigos. E também estamos há algum tempo, na companhia, trabalhando com o gênero autoficção. Por isso, colocou na peça muito de mim, da minha trajetória de ator. Por exemplo, algumas frases autorreferenciais, como: ‘qualquer um mataria por um personagem assim’. E eu estou absolutamente convencido de que qualquer ator “mataria” para fazer este espetáculo. Ou então quando digo na apresentação: “Não tenho um monólogo como tem a Rainha Margarida”. O texto fala da inveja, do ciúme, algo que os atores têm muito presente, mas que muitas vezes custa muito controlar. Mas isso é mostrado de forma divertida, que isso não temos que controlar. Podemos ser malvados, sedutores, causar dor, sermos cínicos, mas também tem isso de sermos queridos.
FILO – De que maneira, ao assistir ao espetáculo, pode-se traçar um paralelo entre o fazer teatral e os mecanismos do poder de forma geral?
Gustavo Saffores – Na peça estão os pontos do texto de Shakespeare que o dramaturgo quis que estivesse, que trata da questão de se alcançar o que se deseja sem se importar com os meios para isso. Pode-se fazer um paralelo em qualquer âmbito da sociedade, afinal, com diz o ditado, se quiser conhecer alguém de verdade, dê-lhe o poder. E aqui (no espetáculo), pode-se seguir duas linhas distintas. Uma que é ver, simplesmente, o ator que vai eliminando o elenco para ficar com o papel. Ou então, que não se trata de um tema anedótico e estamos tratando de “Ricardos 3ºs” que existem e estão camuflados, utilizam estratégias perigosas para chegar onde querem.
Festival Internacional de Londrina
De 14 a 30 de agosto
Promoção: Associação dos Amigos da Educação e Cultura Norte do Paraná e Universidade Estadual de Londrina
Direção: Luiz Bertipaglia
Patrocínio: Petrobras, Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), Caixa Econômica Federal, Copel/Governo do Estado do Paraná, Unimed Londrina, Horizon – John Deere e Ministério da Cultura / Governo Federal /Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Apoio: SESI Londrina, Royal Plaza Shopping, W2 Digital, Bar Valentino, Fecomércio PR/SESC, M&M Brasil, UEL FM, Doce Sabor, RPC, Fundação Cultural de Ibiporã, Itamaraty e Geleia Mob APP.
Realização: Ministério da Cultura / Governo Federal