TERRITÓRIOS E NARRATIVAS

Encruzilhada é palavra primeira que crava e cruza o eixo curatorial da edição dos 55 anos do Festival Internacional de Londrina. Na palavra encruzilhada mora o significado de ser lugar onde ruas, caminhos e estradas se cruzam. E é na encruzilhada de nossos pensamentos e olhares, como curadores convidados, que nos deparamos com diferentes territórios, narrativas e deslocamentos, presentes nos espetáculos e intervenções que compõem esta programação.

Londrina, ainda que jovem senhora, abriga em si uma fusão de tempos, de mapas, de centros e periferias em tensa relação, mas também em potência de diálogo e criação. É uma cidade que, em sua história, carrega a marca dos deslocamentos, habitada por povos e culturas de muitos lugares.

Por cima desse solo soterrado pelo cimento do dito progresso e contra toda tirania, convidamos todas, todes e todos para caminhar conosco por esta viagem sensorial, afetiva, política e estética entre os deslocamentos e narrativas que se enunciam no centro do palco, nas ruas e pontos de encontro de Londrina, para celebrar nossos modos de luta e resistência latino-americanos.

Esta encruzilhada abre caminhos para deslocamentos, expressados por meio do corpo estrangeiro marginalizado, em Apuntes sobre la Frontera; do protagonismo de narrativas indígenas, em Karaíba; das vulnerabilidades sociais desnudadas em Tijuana; do errante corpo diaspórico em Bagagem; das crises migratórias na contemporaneidade, em Estudo N° 1 – Morte e Vida. Também por intermédio das subjetividades negras, em Desfazenda – me enterrem fora desse lugar; do manifesto sobre a violência policial contra jovens negros periféricos, em Mil Litros de Preto; das vozes interrompidas das mulheres vítimas de feminicídio, em Espaço do Silêncio; da resistência dos corpos dissidentes, em Traveca Delights; da busca por uma narrativa contracolonial, em Sobrevivente; do riso desarmado contra a tirania em Abrazo e WWW Para Freedom; do brincar entre aromas e sabores em Ao Ponto. E ainda do jogo de metalinguagem e sobre poderes corrompidos, em Ubu: o que é bom tem que continuar!, e em Neva; da desumanidade das relações na leitura encenada Carne Viva; das mitologias iorubás em Itan e Tal e em Preta do Leite; das epistemologias de mulheres negras em Pret(a) – Resquícios de uma Mulher Só; do convite a movimentar a cidade em Como Dançar Junto; da efemeridade do tempo em Habite-Me; da dureza da vida em Eu Existo; e da ousadia em continuarmos vivendo, em Jasmim e a Última Flor.

É chegada a hora, o FILO 2023 vai começar! A gente se encontra na próxima esquina, na próxima curva, na próxima encruzilhada.

Amanda Marcondes, Carin Louro, Eddie Mansan
Curadoria FILO 2023