“A alegria é a prova dos nove” – calculava o genial Oswald de Andrade, desafiando a matemática. Nas contas do pai da Antropofagia, nosso destino é a mistura, a troca das culturas, a absorção do diferente como pedra angular da civilização brasileira. Suas ideias passaram pelos palcos e ajudaram a construir a nossa ideia de Nação.

Em sua 49ª edição, rumo aos 50 anos de existência (e insistência), o Festival Internacional de Londrina, o mais antigo festival de teatro da América Latina, abre as cortinas e inaugura o espetáculo necessário, urgente: o espetáculo da diversidade, da tolerância, do humanismo.

Espetáculo da troca, da reflexão, das novas propostas.

Em meio à comédia de erros, em meio aos dramas e farsas da vida nacional, o FILO desfia sua intensa (e extensa) lista de temas e abordagens, conteúdos e linguagens que constituem, ao cabo e ao largo, os elementos de uma nova agenda para a vida brasileira. Aqui é o território em que as ideias movem a emoção e a emoções se convertem em atitudes.

Nesta edição do FILO veremos um jovem Hamlet ainda mais atual, e radical, na montagem do Armazém. A perturbadora conexão entre a política e o crime organizado vai estar presente (como uma ferida exposta) na dramaturgia de Alexandre Dal Farra. Aqui o Brasil patriarcal agoniza com o personagem de Chico Buarque de Holanda no premiado “Leite Derramado”. Aqui, Fernanda Montenegro fala de Nelson Rodrigues.

Aqui, alegria do criar, de mexer com a cidade – e a coragem de encarar os temas ásperos: o racismo, a homofobia, a invisibilidade dos despossuídos. No FILO falam os negros do apartheid, falam as mulheres, as Camiles, Jardelinas. Falam as mulheres guerreiras de Eduardo Galeano – e vítimas da intolerância, as Grazzis, as Trans.

“Gritar contra os fascistas nos deixa um pouco fascistas também?” – um personagem pergunta. Em tempos de protestos ruidosos, o teatro fala a poesia dos gestos.

RUMO AOS 50 ANOS, o FILO celebra neste 2017 a retomada de seu espaço sagrado, seu território histórico, o Cine Teatro Ouro Verde, joia do modernismo na arquitetura, consumido por um incêndio em 2012 e finalmente entregue à comunidade. Como no mito da Fênix, nosso teatro renasceu das cinzas. Que sirva a metáfora para aqueles que nunca deixam de sonhar com uma sociedade justa e tolerante, solidária e humana. Viva o FILO 2017!

 

Luiz Bertipaglia