Pela primeira vez em Londrina, o ator faz a abertura do FILO 2016 com o espetáculo “Processo de Conscerto do Desejo”, que traz poemas escritos pela mãe, que ele não conheceu

O consagrado ator e diretor Matheus Nachtergaele abre nesta sexta-feira (26), no Teatro Marista, a edição dos 48 anos do Festival Internacional de Londrina – FILO 2016, com o espetáculo “Processo de Conscerto do Desejo”. Em cena, o ator dá vida aos poemas deixados pela sua mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, que morreu aos 22 anos. A peça também será encenada no sábado (27), às 20h30.

“Além dos poemas, minha mãe deixou um filho, e como ator, sou o arauto a dizer os poemas dela. Uso meu instrumental para dar voz a minha mãe”, disse Nachtergaele, em entrevista coletiva de abertura do FILO, na quinta-feira.

Matheus Nachtergaele define a montagem com uma “oração profana” em que ele presta uma homenagem a sua mãe, que se suicidou quando ele tinha apenas três meses de vida. Os poemas que ele recita em cena foram a herança da mãe e o acompanharam durante quase 30 anos. Por muito tempo, foram uma ferida aberta na vida de Matheus, pois neles poderiam estar a chave para compreender o que havia levado sua mãe ao suicídio. “Eu me relacionei com esses poemas a vida toda. De dois anos para cá, percebi que o suicídio dela já não era mais uma ferida aberta, que carregava uma cicatriz, mas sem dor. Então resolvi mostrar para as pessoas a qualidade dos poemas de minha mãe”, destacou.

Os textos deixados por Maria Cecília revelam o ator, têm ironia, humor e delicadeza. “É uma obra inteligente, textos críticos, não tem autopiedade, não é um lamento. São escritos de uma pessoa que estava observando o mundo e não gostou muito do que viu aqui”, comentou.

Nachtergaele reconhece que trabalhou com um tema tabu, que provoca incômodo. “Não tenho a pretensão de tentar explicar o que levou a minha mãe ao suicídio. Mas quis jogar luz sobre um tema complexo, não de uma maneira psiquiátrica. Mas como uma celebração que parte de uma tristeza para se tornar beleza”.

A presença da mãe vai além dos poemas recitados por Nachtergaele. Ele conta que ela gostava muito de música e tocava violão. Por isso, no palco, além de recitar seus poemas, o ator canta as canções preferidas da mãe, acompanhado pelo violonista Luã Belik e o violinista Henrique Rohrmann.

Ao mesmo tempo em que faz um “concerto” musical, Nachtergaele realiza um “conserto” em que faz reparos à memória em busca de compreender a própria mãe. O ator observa que ao compartilhar uma parte tão íntima de sua vida com o público acaba levando as pessoas reverem também suas lembranças. “A plateia termina com um sorrisão e o rosto cheio de lágrimas”, antecipou.

Primeira vez em Londrina

O ator conta que “quase” esteve em Londrina em 1989. Na época, Nachtergaele participou por oito meses dos ensaios do espetáculo “Paraíso Zona Norte”, que o diretor Antunes Filho montava com seu Centro de Pesquisa Teatral (CPT), em São Paulo.

“Comecei a fazer teatro com o CPT. E esta foi a primeira peça que ensaiei. Como era muito jovem, o Antunes considerou que não deveria estrear. Lembro que um dos compromissos era em Londrina, e eu fiquei super feliz, pois tinha um tesão de vir aqui. Os atores de minha geração tinham um desejo de ser chamados para participar do Festival de Londrina. E agora, anos e anos depois, estou aqui. Fiz outros espetáculos, participei de outros festivais, mas nunca tive em Londrina. Estou estreando aqui”, comemora.

FICHA TÉCNICA

Textos: Maria Cecília Nachtergaele
Direção e interpretação: Matheus Nachtergaele
Violão: Luã Belik
Violino: Henrique Rohrmann
Direção de Produção: Miriam Juvino
Produção Executiva: Rafael Faustini
Corpo: Natasha Mesquita
Voz: Célio Rentroya
Iluminação: Orlando Schaider
Design Som: Andrea Zeni
Artes visuais: Cláudio Portugal e Karina Abicalil
Divulgação: Silvana Cardoso (Passarim Comunicação)
Contrarregra: Cedelir Martinusso
Assessoria: A Gente Se Fala Produções
Realização: Pássaro da Noite Produções